segunda-feira, dezembro 15, 2003

CAÇADAS EM ÁFRICA II

O Banco Nacional Ultramarino organizou em Moçambique a maior reserva de vida selvagem que porventura existiu em África na década de setenta. A Safrique, como foi designada, reuniu uma meia dúzia de coutadas, numa área de dimensão superior à de Portugal, para explorar o turismo cinegético, baseado num abate controlado de animais e no safari fotográfico. Reunia aquele espaço uma impressionante fauna selvagem, rica em espécies e em quantidade de animais. Desde os felinos aos pequenos primatas e às aves raras, de tudo existia naquelas centenas de quilómetros quadrados de florestas, planícies e rios, com uma extensa praia de areia muito branca e mar azul, ao longo da costa. Nunca, em lugar algum, penso que possa ter existido algo tão magnífico e tão grandioso. Era a natureza no seu esplendor.
Em todas as coutadas da Safrique existiam acampamentos, feitos de madeira e colmo, constituindo pequenos aldeamentos, na aparência semelhantes às aldeias indígenas, mas dotados de todos os requisitos de qualquer hotel de cinco estrelas.
O custo dos safaris só era acessível a pessoas muito ricas, idas principalmente dos Estados Unidos e da Europa. Por ali passaram grandes empresários, políticos de renome, estrelas de cinema e outros que puderam pagar o privilégio de apreciar algumas maravilhas da natureza.
Lembro-me de um palanque construído no cimo de algumas árvores junto a uma pequena lagoa, onde no início ou no fim do dia as pessoas se juntavam em profundo silêncio para ver ou fotografar os animais que pela fresca ali iam beber. Qualquer animal selvagem é de uma beleza única e incomparável. O leão, com a sua enorme juba, a cor da sua pele e o porte sobranceiro é uma obra extraordinária da natureza. Mas o mesmo se pode dizer do leopardo, da girafa, das zebras com as sua magníficas listagens, e tantas outras espécies, algumas infelizmente em vias de extinção. Mas a impressão que causam é maior quando são observados no seu habitat natural, onde se acrescenta a beleza do cenário, também único.
O pessoal que trabalhava nos acampamentos incluía, obviamente, caçadores-guias profissionais, que organizavam as deslocações diárias e asseguravam uma escolha criteriosa dos animais a abater, quando era caso disso, com preferência pelos machos mais velhos e com absoluta exclusão de fêmeas ou crias. Eram responsáveis também pela segurança dos turistas e pelo bom sucesso da caçada. No fim do dia, no acampamento, perto de uma enorme fogueira que afastava o cacimbo e os mosquitos, participavam com os seus clientes na euforia do momento, em que se lembravam os aspectos mais significativos da jornada, acompanhando a conversa com champanhe, wiskie ou vinho das melhores marcas e, para quem apreciava, de um bom charuto. Normalmente os caçadores-guias eram pessoas muito interessantes, pela experiência das suas vidas e pelo refinamento resultante do convívio com as personalidades que acompanhavam. Guardo, porém, uma recordação especial do velho Pierre, que ficou associada a uma tragédia de triste memória.
Uma família americana, constituída pelos pais e uma jovem de dezoito anos, esbelta, bonita e alegre, fizeram uma safári, que decorreu muito bem até ao fim, Na hora do regresso, a filha pediu para ficar mais uma semana. O seu prazer predilecto era o de se deslocar à praia, onde sózinha no imenso areal se despia e nua mergulhava nas ondas, apreciando a frescura das águas sob um o sol quente e brilhante. O velho Pierre, que podia ser seu pai (e talvez até avô), mantinha-se discretamente a alguma distância, procurando não interferir com a liberdade e o prazer que a jovem tirava daqueles momentos únicos, naquele espaço magnífico. Os pais criaram uma grande confiança no seu já amigo Pierre e resolveram aceder ao pedido da filha, que assim ficou, para morrer naquele paraíso, vítima de um fascinante mas perigoso animal selvagem, que cruzou o seu destino.
Um dia, um dos criados do acampamento anunciou que um leopardo fora ferido e fugira, não tendo ainda sido encontrado. Cabia ao Pierre ir procurá-lo e abatê-lo. Um animal selvagem ferido era um perigo para as populações e para os turistas. A jovem quis acompanhá-lo, ao que ele recusou. Mas ela não sabia aceitar recusas e tanto insistiu que acabou por convencer o velho caçador, que não resistiu aos encantos da jovem. Durante horas seguiram as pistas deixadas pelo leopardo e, pouco a pouco, aproximaram-se do local, na floresta, onde provavelmente se encontrava. O leopardo é um animal ágil, trepando às árvores como um gato e podendo esconder-se a coberto das folhas e dos galhos.
Não sei se alguém, alguma vez, chegou a saber exactamente o que se passou. Ao que parece o leopardo caiu de surpresa sobre a jovem. O velho Pierre, ao tentar desesperadamente abatê-lo, disparou, mas o tiro atingiu a jovem...

CAÇADAS EM ÁFRICA

O Jeep avançava de vagar pelo meio do capim e dos arbustos. Era perto do meio dia e o sol caía a pique, provocando um calor intenso. No meio da planície, ao fundo, iniciava-se uma mata. O nosso guia, um africano experiente como pisteiro, que seguia atrás na caixa aberta da viatura, bateu na capota, enquanto com o dedo procurava assinalar ao longe, na direcção das árvores, algo que ninguém conseguiu perceber. Em tom baixo, chamou a atenção para umas aves brancas pousadas nas árvores. Era a ave da carraça, que acompanha sempre as manadas de búfalos. Alimentam-se dos parasitas que se escondem na pele grossa e rugosa dos animais, num pacto de sobrevivência de interesse mútuo. Lentamente, o Jeep foi avançando na direcção indicada pelo guia. De repente, os animais que repousavam e fugiam ao calor no meio das árvores, ao aperceberem-se da nossa presença, juntaram-se numa clareira. Eram certamente algumas centenas e aquela presença maciça impressionava e assustava. Em pouco tempo, formaram um dispositivo de combate, em círculo, com os machos mais corpulentos à frente, as fêmeas no meio e as crias no interior do grupo. Depois de um breve momento, com o Jeep parado e todos os seus ocupantes no mais profundo silêncio, viraram as costas e iniciaram uma corrida, fugindo daquela ameaça que havia surgido no meio da planície. Acelerámos em perseguição e alguns tiros foram disparados. Dois animais corpulentos caíram e algumas crias começaram a deixar-se atrasar. De repente, como que obedecendo a um sinal, todos aqueles animais pararam e voltaram-se na nossa direcção, tendo à sua frente o que, pelo seu aspecto possante, era certamente o chefe da manada. Os travões foram metidos a fundo. E durante breves segundos o confronto pareceu inevitável. Era aterrador imaginar uma eventual carga sobre nós. A imobilidade e o silêncio durou alguns segundos, findos os quais o chefe da manada deu meia volta e continuou o seu caminho seguido por todos os outros, em corrida, mas sem qualquer sinal de pânico e com toda a manada bem organizada. Para nós a caçada havia terminado. Os dois búfalos abatidos eram suficientes e a experiência fora avassaladora.

sexta-feira, dezembro 05, 2003

A TÉCNICA DO BÉBÉ

Desde que sou avô comecei a ter a oportunidade de observar, com mais atenção do que quando era pai, os comportamentos dos bébés e a forma como comunicam com as pessoas e o ambiente que os rodeiam.
Sorriem, palreiam, agitam-se, estendem os bracitos quando alguém se propõe pegar neles ao colo, aceitam ou recusam a comida que lhes querem dar, mas basicamente impõem a sua vontade. Para isso choram, para chamar a atenção. Se necessário avolumam o choro. E se não são atendidos, iniciam uma gritaria que acaba normalmente pela realização do que desejam. Quase sempre as pessoas acabam por ceder para não serem incomodadas. Mas tenho observado também que se os adultos permanecem firmes o bébé compreende que nada vai obter e desiste.
E assim há aqueles que só adormecem ao colo e outros que aceitam ir para a cama sem chorar, consoante os resultados (ou a falta deles) obtidos anteriormente com a gritaria.
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Também vejo televisão e observo as manifestações de rua, com muita gritaria à mistura, e as greves, que pretendem perturbar e incomodar todo o mundo.
É a técnica do bébé aplicada pelos adultos, muito recomendada pelos sindicatos.
A experiência com os bébés recomenda que não haja cedências perante essas exibições.

quinta-feira, dezembro 04, 2003

CINQUENTA POR CENTO

A regra estatística de que cinquenta por cento dos portugueses anda a tentar enganar a outra metade não é inteiramente exacta. Na verdade há portugueses que tentam enganar todos os outros.
Por exemplo:
- os que utilizam facturas falsas para receberem IVA pago pelos outros.
- os que falseiam receitas médicas para receberem contribuições que todos pagam.
- os que declaram rendimentos mínimos quando usufruem rendimentos máximos.
- os que criam obstáculos à resolução de problemas como fonte de angariação de luvas.
- os que utilizam informação privilegiada para obterem ganhos ilícitos.
- os que utilizam poderes democráticos para obterem favores não democráticos.
- etc.,etc..

terça-feira, dezembro 02, 2003

ESPECTÁCULO A HORAS

Numa viagem que fiz ao Rio de Janeiro há alguns anos atrás, fui ao Canecão assistir a um espectáculo de Caetano Veloso, que estava anunciado para as 21 horas. As 21 e 15 nada tinha acontecido, excepto que as pessoas continuavam a entrar. Meia hora depois o público começou a dar sinais de impaciência. Passados 45 minutos havia assobios e uma pateada ensurdecedora. Pouco depois o artista entrou no palco e começou a cantar. Fez-se silêncio e os aplausos foram intermináveis.
Dias depois, entrei num outro teatro onde Jô Soares dava o seu "one man show".
Ao observar os vários cartazes existentes no hall, pude ler num deles comentários da imprensa que enalteciam todo o espectáculo, desde a qualidade da montagem aos dotes excepcionais do grande artista que é, como todos sabemos, o GORDO.
E a terminar dizia que Jô Soares era não só o maior artista vivo do Brasil, como o único que começava o seu espectáculo a horas.
Amante como sou da pontualidade, foi com entusiasmo que comprei os bilhetes de ingresso.
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O espectáculo começou com meia hora de atraso.
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Com estes antecedentes fiquei admirado quando tive conhecimento de que o actor brasileiro António Fagundes, interpretando uma peça de teatro em Portugal, anunciou previamente que as portas de entrada na sala seriam fechadas, impreterivelmente, à hora do início do espectáculo.
E fiquei espantado quando soube que cumpriu a regra logo no dia da estreia, deixando surpreendidos e indignados umas dezenas de portugueses.
O meu espanto e admiração tem a ver com o caracter do artista.
António Fagundes vem de um País que não usa relógio e sabe muito bem que para os portugueses chegar tarde é uma questão de estatuto.
Quando lhe perguntaram se pretendia castigar os retardatários, respondeu simplesmente que queria fazer respeitar os espectadores pontuais e os artistas.
Aplaudo de pé António Fagundes.
Além de grande artista é também um homem educado e corajoso.
Não vai endireitar o Mundo, mas passa a ser, para mim, uma referência a ter em conta.

AS NOSSAS OPÇÕES

Não é possível saber qual teria sido o resultado das opções que não fomos fazendo ao longo da vida.
A certa altura escolhemos um determinado percurso, quando poderíamos ter preferido outro. Decidimo-nos por determinadas perspectivas no presente, em detrimento de outras no futuro. Em certo momento preferimos a segurança ao risco ou o inverso. De uma forma geral ignoramos conselhos de pessoas mais experientes e decidimos por intuição. Ou aceitámos esses conselhos para fugir a responsabilidades.
O que teria sido a nossa vida se as nossas opções tivessem sido outras?
Perante a incapacidade de encontrar uma resposta, muitas pessoas, certamente pessoas felizes, confortam-se afirmando que se fosse hoje teriam decidido da mesma maneira.
Mas a vida demonstra que todos cometemos erros com frequência e isso certamente aconteceu nas decisões que influenciaram a vida que tivemos.
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A questão é mais complexa quando as nossas decisões afectam a vida de terceiros.
Ao nível familiar, por exemplo, quando influenciámos os filhos a fazerem opções morais ou materiais, ou quando procuramos encaminhá-los nas escolhas profissionais ou mesmo sentimentais.
A nível das organizações ou das empresas quando os erros de gestão afectam trabalhadores e colaboradores.
A nível social quando se exercem cargos políticos ou de governo.
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Curiosamente, quanto mais grave é a consequência dos erros eventualmente cometidos menos frequente é o reconhecimento de que eles podem ter existido.
Nunca ouvimos um político aceitar que se tenha enganado.
Nem mesmo quando escrevem as suas memórias e a evidência demonstra os erros cometidos.

sexta-feira, novembro 14, 2003

AMINISTIAS

Lembramos as que recentemente foram decretadas pelo Poder Político:
a) FP25;
b) viagens fantasmas dos deputados
c) médicos ligados à Bayer.
A Justiça funciona mal em Portugal.
Mas, à cautela, é sempre bom poder dispor de uma amnistia.

quinta-feira, novembro 13, 2003

SER CIVILIZADO É....

Ser civilizado é ser educado.
É admirar a natureza, a beleza, a poesia e a arte.
É respeitar as pessoas e os animais.
É saber apreciar as flores, os frutos, as árvores, as pedras e os objectos.
É gostar do asseio e da limpeza, da ordem e da pontualidade.
É aceitar as diferenças.
É atravessar na passadeira e parar ao sinal vermelho.

Ser civilizado é não odiar, não roubar, não destruir, não matar.
É não deitar lixo para o chão.
É não apagar os cigarros com a ponta dos sapatos ou deitá-los pela janela.
É não conspurcar os jardins onde brincam as crianças.

Ser civilizado é não ser agressivo, não agredir, não discutir com insensatez.
É não elevar a voz, não gritar, não tocar a buzina.
É não se drogar, não se embriagar.


Ser civilizado é amar a vida.


sexta-feira, novembro 07, 2003

EU, CONTRIBUINTE PAGADOR....

Numa tertúlia entre amigos, um dos presentes, militante socialista, defendia com veemência e muita convicção a luta dos estudantes contra o aumento das propinas por considerar:
a) que era obrigação do Estado assegurar ensino gratuito a todos os portugueses;
b) que o aumento tinha sido numa percentagem muito elevada;
c) que os estudantes tinham o direito de se manifestar, mesmo fechando a cadeado o espaço da reitoria e dos professores, porque vivíamos em democracia.
Para reforçar as suas críticas alargou o âmbito do debate, condenando a política orçamental do Governo, pois, em seu entender, o Estado devia preocupar-se menos com o défice e mais com a economia, atribuindo verbas para investimento público.
Será que estas ideias estão correctas e são socialmente úteis?
A verdade é que as vejo todos os dias escritas na imprensa e apresentadas nas televisões, por vezes com grande entusiasmo, por parte de jornalistas, repórteres e apresentadores, para além de intelectuais e comentadores.
Apesar disso, vou encher-me de coragem e dizer que penso de forma diametralmente oposta.
Assim, EU CONTRIBUINTE PAGADOR:
a) entendo que o Estado deve assegurar o básico e o essencial, na Educação como em tudo o mais (salário mínimo, subsídio de sobrevivência, assistência médica gratuita para quem não tem recursos, etc), mas não terá nunca a obrigação de pagar licenciaturas a todos os estudantes. Que dê apoios aos que necessitam, isso sim. Mas não tem a obrigação de pagar cursos superiores a quem o pode fazer de sua conta. Pela simples razão de que o Estado sou eu, um dos contribuintes deste País. E não vejo por que motivo terei de suportar com a minha reforma os estudos de pessoas que dispõem de recursos superiores aos meus e que, por vezes, até fazem gala em exibir os seus sinais exteriores de riqueza. Vou mais longe: penso que o ensino superior não deveria ser incumbência do Estado que gere mal quase tudo e essa área também. Actualmente começa a ser referido um exemplo dramático dessa má gestão com a falta de médicos resultante dos "numerus clausus" impostos durante décadas no acesso às faculdades de medicina, para proteger interesses corporativos. Tal não teria acontecido com um ensino superior privado: a lei da oferta e da procura no mercado de trabalho teria regulado a questão sem contemplações pelos interesses instalados;
b) Relativamente ao aumento das propinas, apenas achei curioso que a base da argumentação fosse centrada no aumento percentual e não no valor absoluto (bastante irrisório).
c) A ideia de que o direito dos estudantes a manifestarem-se pode sobrepor-se ao direito dos estudantes que querem ir às aulas e ao dos professores que desejam dá-las não se enquadra nos meus critérios de referência. Note-se ainda que temos visto a polícia de choque intervir contra trabalhadores que querem fechar a cadeado fábricas que vão encerrar (provavelmente as origens sociais de estudantes e trabalhadores não são as mesmas, pelo que o tratamento policial também deve ser diferente).

Quanto ao princípio de que o Estado deve investir mais para desenvolver a economia do País venho (eu, contribuinte pagador) declarar solenemente que não confio um tostão ao Estado para investir seja no que for, porque é coisa que não sabe fazer. Direi mesmo que só a alguns (poucos) dos empresários que conheço daria tal voto de confiança. A prova é que a maioria acaba por não pagar impostos e vai à falência.
Não é necessário usar lentes para ver o resultado das opções de investimento do Estado, desde os magníficos estádios de futebol em dimensão e quantidade faraónica até às auto-estradas sem portagem que ninguém sabe com que verbas vão ser conservadas.
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Finalmente, atrevo-me a propor as seguintes orientações:
a) os estudantes que não possam custear a sua formação académica devem receber bolsas do Estado e reembolsa-las com os proveitos da sua actividade profissional, ainda que a prazos longos;
a) nas manifestações públicas, incluindo as dos estudantes (nestas até por maioria de razão), não podem ser esquecidos os deveres de respeito pelas instituições e pelas pessoas;
b) o Estado deve assegurar apenas contribuições mínimas e serviços mínimos;
c) o Estado não deve fazer investimentos, assumindo antes um papel regulador da economia e controlador das leis (colectar impostos com respeito pelos contribuintes, cobrá-los, geri-los de forma socialmente útil e fazer cumprir as leis).
d) O Estado deve reduzir os impostos (para felicidade minha e dos outros contribuintes pagadores).

quarta-feira, novembro 05, 2003

QUANDO ALGUÉM GANHA ALGUÉM PERDE

A necessidade de conquistar votos como única forma de manter o poder político fragiliza o Governo e dá origem a um verdadeiro assalto ao orçamento por parte de todos os que vêem nisso a oportunidade de ganhar algum dinheiro ou de evitar algum encargo.
Infelizmente, há em Portugal muitos oportunistas.
Actualmente, estão na frente de batalha os estudantes que não querem pagar propinas. Mesmo aqueles que as podem pagar e que julgam legítimo viver (neste caso não gastar) à custa dos outros.
Mas ainda recentemente estiveram os motoristas de táxis que não queriam pagar impostos e os munícipes que pretendiam estradas gratuitas (estes apoiados com despudor pelos seus autarcas).
A lista de oportunidades e de oportunistas não teria fim.
Por cada assalto ao orçamento concluído com êxito há contribuintes que têm de pagar mais ou que perdem a oportunidade de pagar menos.
Os líderes estudantis, sindicais ou outros, que promovem essas acções, inverteram o papel de Zé do Telhado: roubam aos pobres (os contribuintes são na sua grande maioria trabalhadores por conta de outrem) para dar aos ricos (muitos estudantes vêm de classes sociais bem instaladas na vida e exibem grande facilidade em gastar dinheiro, como é o caso com deslocações do norte e do sul do País a Lisboa em autocarros que não são gratuitos).
Não consta também que fiquem sem almoçar e jantar durante esses dias.
Não consta também que deixem de ir nos seus automóveis para as universidades.
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Para clarificar esta questão seria útil passar a ensinar nas escolas que o dinheiro não cai do céu e que quando alguém ganha há alguém que perde.

sexta-feira, outubro 24, 2003

AFINAL FOI ERRO POLÍTICO...

O envolvimento do Partido Socialista no processo judicial que indicia o deputado Paulo Pedroso em crimes de pedofilia deixou atónito o País. Por mais solidariedade e amizade que possa existir entre os dirigentes do Partido, é difícil de compreender a não separação dos planos pessoal e institucional.
No plano pessoal, cada um assume as atitudes que quer.
No plano institucional, que envolve todos os militantes do partido, a direcção não pode assumir compromissos que não sejam políticos e, muito menos, quando estão em causa solidariedades de honra, que uns podem sentir, muito justamente, mas outros não, também muito justamente.
Felizmente parece que a Comissão Política Nacional está a corrigir a situação.
Afinal tratou-se de um erro político...

quarta-feira, outubro 15, 2003

PREDADORES

Chamamos predadores aos animais selvagens que caçam e matam para comer, isto é, para sobreviver, quando os maiores predadores são provenientes da raça humana, que torturam e por vezes matam outros seres humanos, tantas vezes crianças, apenas para satisfazerem prazeres ou outros apetites.
A inteligência do homem também serve para se requintar na maldade.

BOM SENSO

Foi com satisfação que li hoje notícias segundo as quais o dirigente socialista António Costa pedia aos seus correligionários silêncio sobre o processo Casa Pia declarando que o interesse do Partido era o mesmo da PGR.
Depois das diatribes de Ana Gomes, o bom senso parece ter começado a chegar ao Largo do Rato.
Com isso sairá beneficiada a Justiça e o País.

terça-feira, outubro 14, 2003

DESACREDITAR A JUSTIÇA BENEFICIA OS CRIMINOSOS

Discordo em absoluto com a recepção feita na Assembleia da República ao deputado Paulo Pedroso.
Foram cometidos excessos, tais como uma mesa partida, entrevistas para a televisão dadas por pessoas sem legitimidade para o fazerem naquele local, manifestações e afirmações exuberantes de alegria de correligionários do partido, tudo dando a impressão de uma recepção a um herói nacional ou de um comício revolucionário.
Para além disso, foi feito um violento ataque à idoneidade da Procuradoria Geral da República, o qual não aconteceu por acaso, pois continuou nos dias seguintes nas televisões, com intervenções exaltadas da Drª. Ana Gomes.
No conjunto, o único propósito terá sido o de desacreditar um dos mais importantes pilares do sistema judicial (onde se situa a investigação e a acusação).
Para se descortinarem as motivações para estes comportamentos, a via mais racional será a de seguir a técnica da investigação dos romances policiais. Isto é, procurar saber a quem beneficia o crime.
Sem margem para dúvidas, o descrédito do sistema judicial só beneficia os criminosos.
A menos que se trate de um grave erro político.
Iremos saber em breve.

sexta-feira, outubro 10, 2003

A PEDOFILÍA E O SISTEMA JUDICIAL

É muito especulativo analisar as questões do Processo da Casa Pia com base nos factos ou acontecimentos do dia a dia, que podem ser negativos ou positivos para esta ou para aquela parte, mas que não permitem, em cada momento, uma extrapolação séria das consequências futuras. Ouvir o Senhor Procurador-Geral da República dizer que não houve unanimidade do colectivo do Tribunal da Relação é um detalhe. Ouvir o Senhor deputado Jorge Lacão comentar o Acordão é outro detalhe. Retorquir ou argumentar perante tais detalhes é especulativo. Mas o mais grave é que tais especulações podem ser intencionalmente criadas e enquadradas dentro de uma estratégia visando determinados objectivos. Penso que isso está a acontecer. As forças em presença têm estratégias bem definidas e actuam no dia de forma a criarem os cenários mais convenientes aos seus interesses, utilizando (diria antes manipulando) a avidez que os orgãos da comunicação social têm pelos acontecimentos do tipo "big brother", isto é, a realidade em directo.

Procurando fazer uma síntese dos acontecimentos o que me parece poder concluir-se nesta altura, globalmente, é que:
1. As vítimas estão a ser esquecidas ou, pelo menos, ignoradas;
2. O Juíz que, a troco de um baixo salário e correndo riscos físicos que justificaram a existência de guarda pessoal, teve a coragem de enfrentar um processo envolvendo ricos e poderosos, está quase transformado no "mau da fita" (tipo árbitro que errou e é responsabilizado pelo resultado);
3. Objectivamente, o único dos arguidos a ser libertado foi um político;
4. As várias componentes do sistema estão em guerra aberta, sem qualquer pudor (Advogados de defesa, Ministério Público, Tribunal da Relação, Poder Político (PS), comentadores de televisão e as próprias estações).

Em meu entender, seria muito mais salutar discutir-se publicamente a metodologia do sistema judicial do que observar a cada passo as suas consequências no processo em questão (demora processual, tempo excessivo de detenção, excesso de mecanismos de defesa, ausência de conhecimento das bases acusatória nos casos de prisão preventiva, etc.).

Por essa via, o sensacionalismo não seria tão grande, mas poder-se-ia rever e melhorar o sistema.

O que me parece estar a passar-se com este processo é o que habitualmente acontece com os jogos de futebol, em que ambas as partes pensam que vale tudo para ganhar ou para justificar a derrota e que, quando perdem, encontram sempre um outro responsável (normalmente o árbitro, cujas decisões no campo são discutidas e desrespeitadas).



terça-feira, setembro 30, 2003

AINDA O PROFESSOR MARCELO

De futuro, será interessante confrontar as opiniões do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, na TVI, com as de Pacheco Pereira, na SIC.
Estilos e motivações diferentes.
No último domingo ambos comentaram a marcha branca contra a Pedofilia.
O Professor considerou o acontecimento como muito positivo.
Pacheco Pereira preferiu sublinhar que a manifestação poderia ter efeitos perversos.
Há muito tempo que tem vindo a ser recomendado pelas mais altas entidades deste País, desde o Presidente da República ao Primeiro-Ministro, que se deixe funcionar o sistema judicial, evitando-se discutir o processo na praça pública.
Será que uma marcha, como a que foi realizada, em que o altruísmo e as boas intenções da maioria das pessoas se misturou com interesses manifestamente contraditórios de outras, contribuiu para deixar funcionar a Justiça?

segunda-feira, setembro 29, 2003

O PROFESSOR MARCELO

Com o seu ar simpático, sorriso amigável e muita facilidade de expressão, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa tem, na sua audiência de domingo à noite, famílias inteiras, compostas de duas ou três gerações, que se reúnem à volta da caixinha mágica para o ouvir comentar, a alta velocidade, os principais acontecimentos da semana.
Fala com a autoridade e competência de um prestigiado professor catedrático.
Procura fundamentar e explicar os seus pontos de vista.
Nunca é agressivo.
Aborda as questões mais melindrosas sem individualizar responsabilidades e quando fala de políticos consegue criticar pessoas dando a impressão que as elogia (as famosas bicadas do Professor Marcelo).
A fórmula é de sucesso, como o atestam os trinta anos de actividade como comentador e a admiração que suscita entre os telespectadores.
Mas... por vezes leva longe demais essa preocupação de não magoar ninguém.
Foi o caso, no último domingo, dos seus comentários sobre a polémica criada por Maria Elisa ao deixar o Parlamento por doença no dia em que ingressava na RTP, supostamente de boa saúde, para logo de seguida ser nomeada (ou indigitada) para uma função pública na embaixada de Londres.
No entender do Professor Marcelo a Maria Elisa estava a ser vítima de invejosos....


segunda-feira, setembro 22, 2003

O BASTONÁRIO E A JUSTIÇA

Numa altura em que a Justiça e os processos que utiliza são questionados em função do efeito que têm no Processo da Pedofilía, o que é a pior maneira de reflectir sobre o assunto, o Dr. Miguel Júdice, ilustre Bastonário da Ordem dos Advogados, depois de pedir contenção nas intervenções públicas, vem agora defender a tese de que as escutas telefónicas só deveriam ser permitidas se estivessem reunidas provas suficientes para a aplicação de medidas de coacção. Isto em nome da protecção dos direitos individuais.
A polémica instalou-se com artigos a favor e contra.
Não sou jurista e tenho pela figura pública que é o Dr. Miguel Júdice o maior respeito e consideração. Mas, neste caso, estou em total desacordo com a sua tese. Compreendo-a, mas penso que os direitos de cada um de nós não podem ser usados para dificultar investigações sobre crimes graves, que se internacionalizaram nos últimos anos, funcionando em rede com os meios mais sofisticados.
Pessoalmente, abdico dos meus se isso puder contribuir para combater crimes que podem afectar direitos humanos, como é o caso da Pedofília e da Droga.
Nesta questão, como em muitas outras, as posições radicais podem ter efeitos perversos.

quinta-feira, setembro 11, 2003

UMA EUROPA CRISTÃ ?

A propósito do projecto de Constituição para a futura União Europeia, nasceu uma interessante polémica sobre se tal documento deve ou não conter uma referência ao facto de a religião cristã ter influenciado ao longo dos séculos a cultura dos países que compõem a actual Europa.
A discussão tem-se centrado sobre se devemos esquecer esse pilar da nossa civilização ou se, pelo contrário, devemos fazer-lhe referência na nova Constituição, procurando, assim, uma garantia de estabilidade numa evolução que, necessariamente, vai dar origem a novos conceitos e filosofias de vida.
À primeira vista parece tratar-se de uma questão de fundo religioso.
Mas, em meu entender, a polémica é essencialmente política.
A referência à origem e à cultura cristã dos países europeus é susceptível de dificultar a adesão de países de origem muçulmana (ou outra), como é o caso da Turquia. A não referência vai facilitar tal adesão.
Trata-se, portanto, de definir, à partida, a amplitude do alargamento da Europa e o perfil desejável dos novos parceiros.
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A vontade de preservação da nossa cultura, a par de critérios de eficiência e de alguma dose de egoísmo aconselham a que se deixe claro o envolvimento cristão do novo espaço político.
Mas com essa clarificação a Europa terá de ter coragem (e possuir meios) para assumir sem equívocos o ónus de uma contribuição decisiva à criação de grandes blocos cimentados em fundamentos religiosos.
A consequência será inevitavelmente o alargamento de bases sociais mais permeáveis à tão receada guerra das religiões, que parece, aliás, já ter tido o seu início com a luta sangrenta pelo poder político desencadeada por facções islâmicas mais radicais em alguns países do Médio e do Extremo Oriente.
Nestas circunstâncias, o problema da nova Constituição Europeia é fácil de entender, mas será certamente difícil de resolver.
E mais uma vez as implicações a curto prazo e a longo prazo parecem antagónicas.
Num futuro próximo haverá óbvias vantagens num certo isolamento europeu, porque será mais fácil consensualizar valores e políticas. A longo prazo essas vantagens podem ter custos enormes, sem os quais não haverá forma de salvaguardar os valores da civilização Ocidental.


quinta-feira, setembro 04, 2003

AS FERAS E A TELEVISÃO

A melhor forma de manter tranquilo um animal selvagem é alimentá-lo bem, pois de uma forma geral a sua agressividade aumenta com a fome.
Estômago cheio, fera amansada.
Já se sacrificaram animais e, por vezes, seres humanos, para acalmar divindades e, em todos os tempos, o poder político procurou saciar o apetite das multidões pelos espectáculos mais ou menos cruéis, desde antiga Roma com o lançamento dos cristãos às feras.
Actualmente ainda restam alguns resquícios dessas práticas. Mas, no essencial, estamos confinados aos espectáculos em formato digital, com especial destaque para a televisão que procura manter o seu poder e influência sobre as pessoas dando de comer às feras....
E quanto mais chocantes e degradantes forem as cenas, quanto maiores forem as tragédias, maior é o tempo de antena e o espaço em horário nobre, confundindo-se diariamente estas aberrações com noticiários.
Como em tudo na vida está também aqui subjacente uma competição.
Em minha opinião, ganha a TVI, logo seguida de perto pela SIC (ou vice-versa).
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Tenho pena, muita pena, que isto aconteça em Portugal.

VIOLÊNCIA SOBRE CRIANÇAS

Os pais amam os filhos. Os avós adoram os netos.
Quem não gosta de crianças ?
As crianças podem ser muito traquinas, birrentas ou amorosas, mas são sempre fonte da vida, que nelas renasce em cada geração. Exigem por isso todo o carinho, sendo condenável qualquer forma de violência exercida sobre elas. Ainda está ainda na nossa memória a palmatória dos cinco olhinhos ou a vara comprida que alguns professores utilizavam e que hoje causam repulsa generalizada.
Sabe-se que muita da violência que existe no mundo tem a sua origem em traumas de infância, designadamente de abusos físicos sofridos no ambiente familiar, na escola, no convívio com outras crianças e depois no contacto com adultos.
As crianças aprendem com a vida, seguem o exemplo dos mais velhos e têm tendência para repetir as palavras, os gestos e os actos que presenciam, formando a sua personalidade com a vivência diária.
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Para além da tristeza e da repulsa que todos sentimos quando se trata de actos bárbaros como o da pedofilia, há que assumir uma vontade colectiva de censurar e condenar toda e qualquer forma de agressividade contra crianças, mesmo quando parece inofensiva ou motivada por propósitos educativos.


segunda-feira, setembro 01, 2003

MUNICIPALISMO E DIVISIONISMO

Os portugueses cultivam todo o tipo de originalidades para se dividirem; históricas, culturais, religiosas, etc.
Preferem ser orgulhosamente poucos (e fracos) a organizarem-se em colectivos fortes.
A primeira razão é a mesquinhez. Todos querem ser presidentes de qualquer coisa e só haverá presidentes se essa coisa existir, seja um clube de futebol, um grupo folclórico ou uma agremiação qualquer.
A segunda é a falta de civismo, sem o qual não é possível aceitar regras, excepto as próprias.
Na era da globalização os portugueses globalizam-se ao nível da aldeia.

CONVEM RECORDAR

No século XX a primeira grande tragédia da Humanidade foi causada pelo nazismo, ambicioso projecto político de dominação totalitária, fundado e liderado por ditadores brutais e sanguinários.
Todos temos ainda presentes os milhões de mortos e as horríveis torturas que alguns seres humanos sofreram.
Convém recordar que foram duas das mais antigas democracias do Ocidente que generosamente sacrificaram os seus povos e muitos dos seus filhos na luta contra essas forças aparentemente invencíveis.
Refiro-me obviamente à Inglaterra e aos Estados Unidos.
Nasceu depois o comunismo que, sob uma falsa doutrina de solidariedade humana, mais não fez do que impor-se pelo terror, causando milhões de mortos e empobrecendo aqueles que aderiram ao sistema ou com ele se conformaram.
Convém lembrar que foram de novo a Inglaterra e os Estados Unidos a conduzir a luta contra essa ditadura, ela também aparentemente irreversível.
No início do século XXI, cresce, à escala planetária, um terceiro movimento de dominação sobre todos os homens, inspirado num fundamentalismo religioso que utiliza abertamente o terrorismo organizado para eliminar aqueles que se lhe opõem e aterrorizar todos os outros.
Mais uma vez são a Inglaterra e os Estados Unidos, duas das mais antigas democracias do Ocidente, a mobilizar esforços para o combate, sob a incompreensão de muitos.
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Acusar estes dois países é ser ingrato.
A eles se deve o vivermos hoje em liberdade e democracia, que é, apesar de tudo, a melhor herança que poderemos deixar às futuras gerações.

quarta-feira, agosto 27, 2003

CLARA FERREIRA ALVES E O TERRORISMO

Clara Ferreira Alves escreve hoje no Diário Digital uma coluna denominada "A explosão", onde opina que o terrorismo é nos nossos dias mais organizado e assustador do que foi no passado, para concluir que isso se deve "...aos erros da Casa Branca e de Downing Street, que todos iremos pagar.."
Termina por chamar a Tony Blair "auto-iluminado" e a George Bush "ignorante".
Admito que a esquerda, que em tudo procura argumentos para combater a direita, pode ter opiniões radicais, mas, em meu entender, a decência obrigaria a que as tragédias provocadas pelo terrorismo internacional não fossem usadas como pretexto para mais uma simples coluna de opinião que não apresenta nada de sério, nem de construtivo.
A decência obrigaria também a não recorrer ao insulto, que se torna ainda mais chocante quando se verifica que nem uma palavra é dita para condenar os responsáveis pelos actos terroristas.
Afinal, para Clara Ferreira Alves, o terrorismo serve lindamente para mais um ataque aos seus opositores políticos.
Lamentável....

segunda-feira, agosto 25, 2003

HÁ QUEM NÃO TENHA MEDO DE MORRER

Morrem pessoas nas estradas. Morrem pessoas nas praias. Más estradas? Má vigilância? Não. Ou não apenas. Acima de tudo falta de respeito por regras e códigos de conduta, falta de educaçao e civismo e uma total inconsciência.
Ainda recentemente numa praia americana assisti ao fim do dia de trabalho dos nadadores salvadores. Antes de partirem ouviram-se os apitos por toda a praia e todas as pessoas que estavam dentro de água sairam durante alguns minutos, os suficientes para que se pudesse verificar que, ao deixarem o seu posto de trabalho, os nadadores-salvadores não deixavam ninguém em situação de perigo. Depois cada um poderia regressar ao mar, mas de sua conta e risco.
O que aconteceria em Portugal quando os apitos soassem ?
Alguém respeitaria a regra de sair da água ?

quinta-feira, agosto 21, 2003

HOMENS DE NEGÓCIO

Qualquer homem de negócios, para ser bem sucedido, precisa de ter qualidades pessoais orientadas para a realização do lucro como objectivo primordial na vida. É uma aprendizagem que se faz desde criança, ou por influência familiar ou do meio ambiente em que se processa o desenvolvimento e a formação do carácter, algumas vezes apoiados numa forte herança genética (costuma dizer-se que filho de peixe sabe nadar).
Dificilmente se criam essas personalidades em escolas e universidades.
A educação académica faz gestores, mas não homens de negócio.
Em toda e qualquer iniciativa, em todo e qualquer projecto, os homens de negócios tem como primeira, ou única, preocupação a de verificarem como poderão sair a ganhar dinheiro, confiantes nas suas capacidades para vencerem riscos e, quase sempre, sem se deixarem condicionar por princípios e valores éticos e morais. A maioria das outras pessoas têm objectivos diferentes na vida, embora obviamente apreciem o dinheiro e gostem de o possuir...

Li em tempos uma história que, de certa forma, ilustra isto.
Numa aldeia remota do interior, o pároco tinha como ajudante na celebração da missa um jovem, filho de pessoas humildes, apenas com a 4ª classe, mas muito desembaraçado e hábil a tirar proveito de todas as situações, designadamente nas brincadeiras com as outras crianças da escola.
Manifestava o pároco o desejo de lhe financiar os estudos, pois lhe parecia que se tratava de uma dádiva de Deus, que teria de ser apoiada. Mas o jovem não se interessava pela escola e um dia, sem disso informar ninguém, deixou a aldeia em direcção à cidade, onde chegou sem recursos e onde não podia contar com qualquer apoio.
Depois de observar o que se passava à sua volta, verificou que muitas pessoas, que circulavam nas ruas, fumavam e procuravam um quiosque, situado estrategicamente numa esquina, para comprarem os seus cigarros. Pensou então que se tivesse um tabuleiro onde transportasse os maços de cigarro, se poderia antecipar ao quiosque, indo ao encontro dos clientes. Assim iniciou a sua actividade empresarial, que teve muito sucesso, a tal ponto que algum tempo mais tarde estava a comprar o quiosque cujo negócio prejudicara. E depois foi adquirindo outros quiosques, com o mesmo sistema de antecipação à concorrência, e foi alargando a rede de vendas, sempre com o objectivo de ir ao encontro das necessidades dos clientes.
Um dia um amigo, que conhecia a sua história, disse-lhe, com muita sinceridade, que admirava as suas qualidades de inteligência, acrescentando: "Posso imaginar o que seria se tivesses estudado..."
Ao que ele respondeu, também com muita sinceridade: " Provavelmente estaria a ajudar a ajudar à missa na minha freguesia..."

terça-feira, agosto 19, 2003

AS BARRAS DE OURO

Há quem pense que a melhor garantia de futuro para os filhos é um valioso património.
Outros consideram que mais importante são os hábitos de trabalho e as qualificações pessoais e profissionais.
A este propósito não resisto a contar um pequeno episódio verídico ocorrido aquando da descolonização de Moçambique.
Diariamente, dezenas de portugueses se apresentavam na ponte-cais da bela cidade de Lourenço Marques com numerosos contendores de madeira acumulando os seus haveres, a fim de os embarcarem para Lisboa.
A Frelimo, partido que havia conquistado a independência, estimulava naquela fase do processo de descolonização a saída de todos os portugueses, dentro da lógica de que, se haviam participado no domínio colonial, não seriam bons colaboradores para o novo poder político. A Frelimo combatia, porém, ferozmente, a saída de bens e haveres, com a ideia de que sem esses patrimónios o País ficaria mais pobre.
Neste contexto, um fiscal da alfândega, que procedia ao exame de um contendor pertencente a um conhecido e prestigiado arquitecto, não encontrando nada a que pudesse objectar, perguntou-lhe onde estavam escondidas as barras de ouro...
Sorrindo, ele mostrou-lhe as duas mãos e respondeu: estas são as minhas barras de ouro; foi com elas que criei riqueza; vão comigo...valem mais do que tudo o que se encontra nesse contentor....

segunda-feira, agosto 18, 2003

MULHERES AO VOLANTE

Tenho pelas mulheres em geral o maior fascínio e pelas que me são próximas, como a minha mulher e as minhas filhas, grande amor e admiração.
Penso que estes sentimentos se justificam. Afinal todos nascemos do ventre duma mulher que cuidou de nós com desvelo e carinho e, tantas vezes, com sacrifício. Foi de uma mulher que recebemos as primeiras referências, foi apoiados nas suas mãos que demos os primeiros passos e é com ela que podemos contar para toda a vida.
A mulher é nossa mãe, nossa esposa e nossa filha.
Mas... todos estes belos sentimentos desaparecem quando vejo, na via em que circulo, uma mulher ao volante. Não sei que estranho fenómeno se apodera desses seres benditos quando se sentam ao comando de um automóvel. Querem ultrapassar tudo e todos, não conhecem ou não respeitam regras de trânsito, tocam a buzina se alguém, mesmo que inadvertidamente não as deixa logo passar, e "last but not least" podem chegar a ser agressivas e malcriadas.
Há muitos sítios onde é apetecível estar com uma mulher.
Mas certo, certo é que não é desejável vê-las ao volante.
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Para ser justo, também há alguns homens assim.

IRRESPONSABILIDADE NA POLÍTICA

Os políticos tem tendência a considerar que só devem responder perante aqueles que os elegeram, os que lhes permite vida folgada pelo menos durante quatro anos. E se pertencerem a qualquer aparelho partidário tem uma irresponsabilidade quase vitalícia.
Assim, a primeira de todas as prioridades de qualquer político é a de gastar o dinheiro que é colocado ao seu dispor de forma que resulte num aumento da sua popularidade.
Esta óptica, para além de todas as distorções a que conduz em termos económicos, privilegia os cenários de curto prazo, em detrimento dos de médio e longo prazo.
Isto é: privilegia a despesa e não o investimento.
Quem vier a seguir que pague a conta.
No que me diz respeito, o meu problema é que sou dos que ficam para pagar as contas.

A RESPONSABILIDADE DO DECISOR

Qualquer gestor do sector privado que obtenha maus resultados é responsabilizado por isso.
Em relação aos gestores do sector público a questão nem sequer se põe.

INVESTIR MELHOR

Todos nós sabemos, e portanto o Estado também sabe, que as despesas consomem recursos, muitas vezes para satisfazer necessidades supérfluas, e que o investimento gera rendimentos que permitem recuperar os fundos aplicados.
A solução consiste, pois, em gastar menos e em investir mais e melhor.
Por outro lado, qualquer investidor privado sabe, e portanto o Estado também sabe, que antes de se aplicarem recursos em qualquer projecto, importa prever a capacidade que o mesmo tem de gerar rendimentos.
A diferença está em que o investidor privado vai à falência se aplicar mal os seus dinheiros, mas isso dificilmente acontecerá com o Estado que tem a faculdade de obrigar os seus accionistas (contribuintes) a disponibilizarem mais capitais.
Por essa razão, o Estado é menos prudente e rigoroso nos investimentos que faz e deixa-se orientar por razões que a economia desconhece (captação de votos).
Como seria útil podermos dispor agora dos muitos milhões gastos de forma duvidosa na barragem do Alqueva e dos muitos milhões desperdiçados em dispensáveis estádios de futebol, para falar apenas dos mais recentes.

terça-feira, agosto 12, 2003

OLHAR NOS OLHOS

Quando o seu interlocutor não o olhar nos olhos, desconfie...
A mais importante diferença entre o cão e o lobo é a de que o nosso fiel amigo nos olha nos olhos expressando os seus sentimentos e porventura lendo os nossos enquanto que o lobo é incapaz de olhar o homem nos olhos. Foram feitas experiências nesse sentido segundo as quais era possível indicar por mímica a um cão a localização de qualquer objecto enquanto que o lobo, apesar de propositadamente faminto, foi incapaz de localizar o local onde fora escondido algum alimento.

segunda-feira, agosto 11, 2003

ONDAS DE CHOQUE

AS ÉLITES QUE NOS DEIXAM FICAR MAL

Como pode este País ser respeitado se as suas élites não sabem o que fazem, nem o que dizem.

Nos últimos dias Portugal foi assim:

a) um ex-Presidente de República insultou um Ministro;
b) um outro ex-Presidente da República participou de um jantar onde foram tomadas atitudes anti-democráticas;
c) vários Parlamentares deram exemplos de falta de idoneidade moral:
d) advogados pediram a prisão de juizes;
e) dirigentes do futebol foram citados como modelo para os políticos.
f) o País inteiro ardeu suspeitando-se de fogo posto;

sexta-feira, julho 04, 2003

A HIERARQUIA DOS VALORES

Lembro-me de quando era miudo (já lá vão mais de 50 anos) o respeito pelas pessoas, principalmente pelos mais velhos, pelos professores, pelas autoridades, etc. era uma exigência de comportamento que se sobrepunha a tudo o mais, o que naturalmente condicionava a liberdade de cada um, a qual tinha nessa época alguns limites, voluntàriamente assumidos pelas regras de boa educação.
Hoje a liberdade não tem limites.
Mas seria de presumir que pelo menos nalguns nos extractos sociais intelectualmente e culturalmente mais elevados, e em princípio mais educados, esses limites fossem respeitados.
Mas tal não sucede.
Vejamos o triste exemplo que por vezes dão os representantes do Povo no nosso Parlamento e, mais recentemente, os parlamentares europeus.

sexta-feira, junho 27, 2003

FALTAS (in) JUSTIFICADAS

Senhor presidente da Assembleia da República:
Não é apropriado marcar faltas injustificadas aos deputados que faltaram ao serviço para irem ao futebol sem para isso terem obtido o prévio acordo de V.Exa. porque:
a) deputado é representante do Povo (e os outros trabalhadores não);
b) o desafio em questão era um acontecimento nacional que exigia a presença da Assembleia da República e como V.Exa não organizou essa representação nada mais natural que os deputados o tenham feito individualmente;
c) a lei que levaria qualquer empresário a marcar falta a um seu trabalhador não se aplica aos representantes do Povo;

sexta-feira, junho 20, 2003

FALTA DE ....

Ainda bem que as alterações à Lei do Trabalho vão ter aplicação porque embora de efeitos práticos pouco significativos representam alguma capacidade de mudança. Não devemos, porém, criar grandes expectativas sob os seus efeitos na produtividade, para evitar futuras desilusões.
A produtividade vai continuar baixa porque a sua causa é bem mais profunda. Assenta na falta de civismo e de educação e isso deverá levar decadas a mudar.
Quando se diz que os trabalhadores portugueses no estrangeiro trabalham mais e melhor, deveria referir-se que os trabalhadores portugueses no estrangeiro também não deitam papeis para o chão, não ultrapassam nas filas de trânsito pela esquerda e atravessam as ruas nas passadeiras.
Lá fora eles respeitam os códigos, o que não fazem em Portugal.