segunda-feira, dezembro 26, 2005

A JOANA NA CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS

A mãe da Joaninha trabalhava na Caixa Geral de Depósitos. Naquele dia estava de folga mas teve de passar pelo escritório para ultimar um assunto que não pudera concluir na véspera. Levou a Joaninha para a mostrar às colegas que a receberam com muitas festas e beijinhos, que os seus cinco anitos inteiramente justificavam. Mas depressa encaminharam as conversas para outros temas. A Joana ficou esquecida por breves momentos que aproveitou para observar tudo à sua volta: as secretárias, os lápis, os computadores …
Um dos telefones tocou, mas ninguém ouviu, tão interessante decorria a conversa entre as mamãs.
Atendeu a Joana, com a mesma naturalidade com que atendia em casa o telefone.
………..
Quando lhe prestaram atenção estava ela a acabar a conversa dizendo:
- …adeus….beijinhos.
A mãe perguntou-lhe:
- Quem era Joana? Com quem estavas a falar ?”
- Foi engano, disse a Joana. Queriam falar para a Caixa Geral de Depósitos !!!!

sexta-feira, setembro 16, 2005

CAVACO SILVA

A candidatura de Cavaco Silva à Presidência só fará sentido, nas actuais circunstâncias, se for portadora de um impulso reformador que, em meu entender, tem de começar pelo abertura de um debate nacional destinado à revisão da Constituição da República, a ser plebiscitado no processo eleitoral.
Com a actual Constituição pouco mais se poderá fazer. E para ser mais do mesmo não valerá a pena..

segunda-feira, agosto 22, 2005

ALEKHINE

Alexander Alekhine, nascido em Moscovo em 1892, que foi campeão do Mundo de Xadrez, viveu durante a última grande guerra, em França, onde colaborou com a resistência até ser preso.
Conta-se que o forte militar onde foi detido era comandado por um oficial alemão que gostava muito do jogo de xadrez, a que dedicava as suas horas vagas e todas as suas capacidades.
O xadrez é um jogo que exige muito estudo, muitas horas de prática, disciplina mental, elevado grau de concentração e faz uso de disciplinas como a táctica e estratégia.
Cada jogador tem de procurar antecipar os possíveis lances do adversário e preparar para eles a melhor resposta. Nessa medida é também uma luta psicológica em que duas mentes se enfrentam, tentando advinhar o que vai na outra.
Um dia, o oficial alemão consultando a lista de prisioneiros, viu o nome de Alekhine, o melhor jogador mundial na época e amplamente admirado por todos os jogadores de xadrez.
A possibilidade de o enfrentar era única e a emoção que isso lhe causava era enorme.
Mandou chamá-lo e propôs-lhe que jogassem um jogo. Receando que Alekhine viesse a deixá-lo ganhar como forma de o aliciar, o que retiraria grande parte do interesse dessa oportunidade excepcional, fez a proposta nos seguintes termos: jogariam um único jogo; se Alekhine ganhasse dar-lhe-ia um salvo-conduto com o qual poderia atravessar a fronteira; se perdesse continuaria preso e ele desinteressar-se-ia da sua sorte.
Alekhine aceitou a proposta e o jogo começou. Após alguns lances, Alekhine percebeu que o seu adversário era muito forte, mas incapaz de lhe ganhar. Hesitou.. Tentou advinhar o que ia na mente do seu adversário: se o vencesse, provavelmente ficaria irritado e não cumpriria o prometido; mas se o deixasse ganhar corria o risco de o ofender e de a reacção ser pior.
Os olhares cruzaram-se. Pelo brilho dos olhos, Alekhine pressentiu que o seu oponente lhe estava a ler os pensamentos.
Resolveu arriscar e decidiu que o campeão do Mundo teria de ganhar mesmo contra um oficial alemão, seu carcereiro e indiscutivelmente um grande jogador de xadrez.
Ganhou o jogo, apertaram as mãos e retirou-se sem trocarem uma palavra.
Horas depois recebeu o prometido salvo-conduto, com o qual atravessou a fronteira, entrou em Espanha e chegou a Portugal, onde conduziu magistrais partidas de xadrez e deixou uma memória que ainda perdura.
Faleceu em 1946 num quarto de hotel no Estoril, vítima de ataque cardíaco.
Os seus restos mortais foram transferidos em 1956 para o cemitério de Montparnasse, em Paris.
Portugal perdeu a presença de uma mente brilhante.
Na internet encontra-se um site em sua memória:
http://www.starfireproject.com/chess/alekhine.html

quarta-feira, agosto 17, 2005

O PRIMEIRO CABELO BRANCO

Num velho livro de contos e outras histórias, intitulado “Fumo do meu cigarro” e editado no início do século xx, da autoria de um jornalista do Diário de Notícias, que penso se chamava Augusto de Castro, relembro este conto muito interessante:
Alguém viajava de automóvel a alta velocidade, inebriado pelo risco e pela sensação de adrenalina, quando, a certa altura, teve um furo num dos pneus, que o obrigou a uma paragem. Saiu do carro e olhou à sua volta. Estava numa montanha de onde se desfrutava o vale em baixo, um rio, algumas casas rústicas e as encostas cobertas de árvores que davam um colorido de várias cores e tonalidades à paisagem. Era um cenário deslumbrante em que não havia reparado pela excessiva velocidade a que viajava. Sentou-se e ficou durante largos instantes a receber a brisa das árvores e a deleitar-se com a natureza que o cercava. Depois substituiu o pneu e seguiu viagem, mas agora rodando de vagar e prestando atenção à paisagem.
Dizia o autor do conto que aquele furo no pneu que lhe permitira descobrir algo a que até ali não havia prestado atenção era como o primeiro cabelo branco que acontece nas nossas vidas.
Quando um dia olhamos para o espelho e descobrimos esse fio de prata, também paramos, reflectimos e passamos a olhar o mundo de forma diferente.

quarta-feira, agosto 10, 2005

A CONTABILIDADE NECESSÁRIA

O País está a arder.
A dor, a angustia, a tristeza, as tragédias, os dramas enchem ecrãs de televisão e páginas de jornais.
Analisam-se os meios existentes. Se são suficientes ou não. Um ministro explica que os meios são suficientes, mas não para os picos...
Ardem casas... Morrem pessoas... A abnegação e a luta dos bombeiros é heróica.
Durante anos seguidos Portugal desertifica-se...
A quem beneficia o crime?
...............
Não seria possível publicar algumas contas ?
Quanto se gastou com os incêndios e em quê ?
Quem recebeu esse dinheiro e porquê ?

sexta-feira, julho 15, 2005

O FMI NO MEU PRÉDIO

Tenho acompanhado a saga dos casais do meu prédio, em que as senhoras, responsáveis pela gestão dos orçamentos familiares, com verbas insuficientes para cobrirem as despesas, resolveram seguir o exemplo do primeiro ministro Socrates, procurando reduzir o défice sem diminuir as despesas, o que as levou a exigirem aos maridos um aumento das contribuições financeiras.
Como vimos, a reacção dos maridos foi de desagrado e de grande preocupação.
A primeira reacção era a de que o caminho mais adequado seria um esforço no sentido da redução das despesas. Mas depois de o governador do Banco de Portugal ter afirmado o contrário era difícil argumentar.
Hoje, porém, chegou-lhes um apoio inesperado.
O FMI acabou de declarar que as medidas anunciadas pelo Governo português eram insuficientes e que seria necessário actuar no lado das despesas...!!!!!!
O que irão fazer as senhoras?

quinta-feira, julho 14, 2005

OS MARIDOS NÃO GOSTARAM

Como referi anteriormente, as minhas vizinhas ficaram entusiasmadíssimas com a solução encontrada pelo Governo de reduzir o défice, sem reduzir as despesas....
O caso é que elas têm exactamente o mesmo problema e estavam a ser pressionadas no sentido de fazerem economias..
Pois bem, o Senhor Governador do Banco de Portugal, um economista de alta craveira, desempenhando um cargo de elevadas responsabilidades, nacionais e internacionais, acaba de dar razão ao Governo, dizendo que essa opção é melhor do que a de efectuar cortes nas despesas !!!!!!!.
As minhas vizinhas entraram imediatamente em acção. Reuniram em casa de uma delas à hora do chá e resolveram colocar a questão nesse mesmo dia aos respectivos maridos, exigindo-lhes o aumento da contribuição financeira para o lar. Elaboraram logo planos para evitar fugas a essa contribuição adicional, que poderiam passar por medidas extremas.
.............
Ao fim do dia os maridos foram confrontados com essa medida e com a respectiva justificação. Os tempos vão maus, as despesas aumentam, há que fazer sacrifícios e, portanto, a contribuição financeira para o lar teria de ser reforçada.
Os maridos não concordaram....No seu entender, havia despesas supérfluas e até inúteis que poderiam ser eliminadas. As idas à manicure, ao cabeleireiro e às massagens talvez pudessem também ser reduzidas....
Mas o esforço foi em vão...
Vivem neste momento angustiados, sem saber o que lhes reserva o futuro e receando novas penalizações.

quinta-feira, junho 30, 2005

BESTIAL ......

O orçamento rectificativo confirma que o Governo aspira a fazer milagres.
Diminuir o défice sem reduzir a despesa é o objectivo para este ano.
Poupar sem deixar de gastar é bestial !!!!!.
Penso que as donas de casa vão seguir com muita atenção o que faz José Socrates porque quase todas têm um problema parecido.
A minha vizinha do 2º. andar está entusiasmadíssima e acredita poder fazer o mesmo.
Tem já vários chás organizados com as amigas para seguirem de perto o processo...

quinta-feira, junho 16, 2005

FILHO BASTARDO

Ele anda por aí... o défice.
Mas ninguém sabe como nasceu, nem quem é o pai. Todos procuram fugir dessa responsabilidade, porque a criança é um caso sério...um problema grave.
Ignora directivas, orientações e outras formas de tutela.
Já tentaram conter o seu crescimento, mas em vão.
Já quiseram interná-lo num orçamento restritivo, mas ficou a rir-se e saiu mais forte e voraz do que antes.
Pouco a pouco está a transformar-se num monstro que tudo consome.
Não há alimentação que lhe chegue.
Atónito e atemorizado, o País que o acolhe e lhe dá guarida uniu-se elegendo por larga maioria uma grande força política para o controlar, porque começa a tornar-se um perigo público e social.
Ainda não se pode prever o que irá acontecer, mas receia-se o pior.
Enquanto a força política faz planos, o monstro não pára de consumir o que encontra à sua volta.
Entretanto, receando reacções violentas, vão-lhe dando tudo o que reclama, para o acalmar......

quinta-feira, junho 09, 2005

COMO É POSSÍVEL !!!!!!

Concordo e sempre concordei com a quebra do sigilo bancário em favor da justiça fiscal.
Mas não concordo nem poderei nunca concordar com a divulgação pública da situação fiscal de cada contribuinte, por que considero uma inaceitável perda de privacidade e uma total falta de respeito pelas pessoas, susceptível de ter graves consequências em termos sociais.
Alimentar a mesquinhez, a inveja, o ciúme e o ódio para os utilizar em favor seja do que for parece-me muito mau caminho.
Provavelmente vamos trocar alguma fuga fiscal pelo desenvolvimento dos sentimentos mais baixos que o homem pode ter, com degradação do tecido social e da solidariedade nacional sobre a qual se deveriam construir todas as soluções.
Os reality-shows vão parecer sensaborões ao lado de comentários eventualmente sórdidos do que ganha ou não ganha o vizinho do lado ou o colega de escritório.
Na minha actividade profissional aprendi que o sigilo sobre o vencimento de cada pessoa era um espaço que deveria ser respeitado.
Nunca, desde a revolução de 25 de Abril de 1974, assisti a um assalto tão grave aos princípios que regem a vida civilizada.
Nem conheço nada de semelhante na Europa democrática.
No entanto, a comunicação social sempre pronta a criticar nem comenta.... Nem os comentadores oficiais..... Apenas ouvi uma voz, a dum presidente de um banco...a preocupar-se com o assunto.
Como é possível !!!!!!!

quarta-feira, junho 01, 2005

A GRANDE MENTIRA

A grande mentira dos últimos tempos foi a promessa feita pelo actual primeiro-ministro quando em campanha eleitoral garantiu aos portugueses, olhos nos olhos, que não haveria aumento de impostos.
Mentira porque não poderia deixar de saber que a situação do País era grave e que exigia aumento de impostos, o que, aliás, vinha há muito tempo a ser certificado por numerosos economistas.
Grande, porque visava enganar não um, nem dois, nem meia dúzia, mas sim dez milhões de portugueses.
Como uma mentira nunca vem só, teve agora de voltar a mentir dizendo que na altura da campanha não conhecia a real dimensão do défice !!!!!
Grande ainda, porque obrigou a uma encenação com altas personalidades da vida pública a criarem um cenário novo, como se a vida fosse uma peça de teatro em que os cenários possam mudar entre dois actos.
Pelas elevadíssimas responsabilidades que resultam das respectivas funções, ficarão na história como actores interpretando papeis de dupla personalidade, quer o Senhor Presidente da República, que o Senhor Governador do Banco de Portugal.
O primeiro, que passou de um personagem que desqualificava a importância do défice dizendo que havia mais vida para além dele.... para um personagem que passou a eleger o défice como o perigo público nº.1, apelando à solidariedade nacional para apoiar as medidas do governo.
O segundo, porque apesar de ser um economista muito reputado e liderar uma Instituição de enorme capacidade técnica, que tem por missão, entre outras, acompanhar a evolução da situação económica e financeira do País, passou de um actor que falava do dito défice sempre com um sorriso negligente e doce nos lábios, para outro que, de repente, descobriu que afinal o défice tinha ido longe de mais, sem disso se aperceber, exigindo ser tratado como verdadeiro monstro, isto é, sem dó nem piedade!!!
Claro está que estamos a falar de ficção e de teatro.
Claro está também que as interpretações de ambos foram magníficas....
Caso contrário teríamos de questionar se a fidelidade partidária justifica uma certa forma de infidelidade ao País.

quarta-feira, maio 25, 2005

O GOVERNO PREFERE A DIETA

As dietas são fases difíceis, em que se perde algum peso a troco de uma privação temporária.
Voltando-se à normalidade, o peso depressa se recupera e até aumenta, nada ficando do sacrifício feito.
Por esse motivo, os bons dietistas preferem a alteração do regime alimentar, com a eliminação definitiva de alguns alimentos de forma reduzir o peso e a mantê-lo estável.
A dieta é uma medida conjuntural; a mudança do regime alimentar é estrutural.
A questão do défice é, em minha opinião, idêntica.
Deveria alterar-se o regime, mas infelizmente o Governo parece preferir a dieta.

terça-feira, maio 03, 2005

EU, CONTRIBUINTE PAGADOR....

Numa tertúlia entre amigos, um dos presentes, militante socialista, defendia com veemência e muita convicção a luta dos estudantes contra o aumento das propinas por considerar:
a) que era obrigação do Estado assegurar ensino gratuito a todos os portugueses;
b) que o aumento na altura decidido (embora irrelevante em valor) tinha sido numa percentagem muito elevada;
c) que os estudantes tinham o direito de se manifestar, mesmo fechando a cadeado o espaço da reitoria e dos professores, porque vivíamos em democracia.
Para reforçar as suas críticas alargou o âmbito do debate, condenando a política orçamental do Governo, pois, em seu entender, o Estado devia preocupar-se menos com o défice do Orçamento do Estado e mais com a Economia, atribuindo verbas para investimento público.
Será que estas ideias estão correctas e são socialmente úteis?
A verdade é que as vejo todos os dias escritas na imprensa e apresentadas nas televisões, por vezes com grande entusiasmo, por parte de jornalistas, repórteres e apresentadores, para além de intelectuais e comentadores.
Apesar disso, vou encher-me de coragem e dizer que penso de forma diametralmente oposta.
Assim, EU CONTRIBUINTE PAGADOR:
a) entendo que, no Portugal actual, o Estado deve assegurar o básico e o essencial, na Educação como em tudo o mais (salário mínimo, subsídio de sobrevivência, assistência médica gratuita para quem não tem recursos, etc), mas não terá nunca a obrigação de pagar licenciaturas a todos os estudantes. Que dê apoios aos que necessitam, isso sim. Mas não tem a obrigação de pagar cursos superiores a quem o pode fazer de sua conta. Pela simples razão de que o Estado sou eu, um dos contribuintes deste País. E não vejo por que motivo terei de suportar com a minha reforma os estudos de pessoas que dispõem de recursos superiores aos meus e que, por vezes, até fazem gala em exibir os seus sinais exteriores de riqueza. Vou mais longe: penso que o ensino superior não deveria ser incumbência do Estado que gere mal quase tudo e essa área também. Basta referir um exemplo dramático dessa má gestão com a falta de médicos resultante do "numerus clausus" imposto durante décadas no acesso às faculdades de medicina, para proteger interesses corporativos. Tal não teria acontecido com um ensino superior privado: a lei da oferta e da procura no mercado de trabalho teria regulado a questão sem contemplações pelos interesses instalados;
b) A ideia de que o direito dos estudantes a manifestarem-se pode sobrepor-se ao direito dos estudantes que querem ir às aulas e ao dos professores que desejam dá-las não se enquadra nos meus critérios de referência cívica.
Quanto ao princípio de que o Estado deve investir mais para desenvolver a economia do País venho (eu, contribuinte pagador) declarar solenemente que não confio um tostão ao Estado para investir seja no que for, porque é coisa que não sabe fazer. Direi mesmo que só a alguns (poucos) dos empresários que conheço daria tal voto de confiança. A prova é que a maioria acaba por não pagar impostos e vai à falência.
Não é necessário usar lentes para ver o resultado das opções de investimento do Estado, desde os magníficos estádios de futebol em dimensão e quantidade faraónicas até às auto-estradas sem portagem que ninguém sabe com que verbas vão ser conservadas.
.............
Finalmente, atrevo-me a propor as seguintes orientações:
a)os estudantes que não possam custear a sua formação académica devem receber bolsas do Estado e reembolsa-las com os proveitos da sua actividade profissional, ainda que a prazos longos;
b)nas manifestações públicas, incluindo as dos estudantes (nestas até por maioria de razão), não podem ser esquecidos os deveres de respeito pelas instituições e pelas pessoas;
c)o Estado deve assegurar apenas contribuições mínimas e serviços mínimos;
d)o Estado não deve fazer investimentos, assumindo antes um papel regulador da economia e controlador das leis (promover a construção de infra-estruturas, colectar impostos com respeito pelos contribuintes, cobrá-los, geri-los de forma socialmente útil e fazer cumprir as leis).
e)o Estado deve reduzir os impostos (para felicidade minha e dos outros contribuintes pagadores).

sexta-feira, abril 29, 2005

ANESTESIADO HÁ 49 DIAS !!!!

Quando há 49 dias o novo Governo foi empossado, o País estava gravemente doente.
Havia fábricas a fechar, o desemprego a aumentar; o défice orçamental muito acima dos 3%; o serviço nacional de saúde com dívidas assustadoras e incapacidades alarmantes; os impostos ameaçando aumentar, quer na sua componente directa, quer no custo dos serviços públicos (transportes e outros); a Justiça com ameaçadores sintomas de insuficiência; o ensino com um panorama pior que mau; etc, etc.
Tudo isto era motivo para comentários e discussões alarmantes a todas as horas nos médias que os portugueses, quer gostem, quer não gostem, têm de consumir (jornais, rádio e televisão).
A ansiedade e angústia eram gerais.
Será que já foi feito algum tratamento ?
Será que estão já previstos e programados outros ?
Não,,,, que se saiba.
Mas os sintomas das doenças parecem ter desaparecido.
Porquê ?
Porque o País está anestesiado e não sente já as dores.
Façamos votos para que não morra na anestesia.

sexta-feira, abril 22, 2005

CERCA DE METADE

Quando alguém perguntou a João Paulo II quantas pessoas trabalhavam no Vaticano, ele respondeu com um sorriso meigo e muita ironia: “cerca de metade”.
Aparentemente o que se passa em matéria de produtividade no Vaticano é o que acontece na maioria das empresas e organizações portuguesas em que só parte dos trabalhadores é que trabalha. Os restantes pouco ajudam e nalguns casos até prejudicam.
A produtividade, obviamente é baixa, com a excessiva protecção da lei e a vigilância atenta dos sindicatos, que protegem os (maus) trabalhadores (os bons não precisam de protecção).
A fim de exercerem a suas funções com a maior eficiência deveriam as empresas ter liberdade para escolherem os seus trabalhadores, sem constrangimentos.
Alguém imagina uma equipa de futebol em que os jogadores, a título de uma qualquer preocupação social, não pudessem ser dispensados quando jogam mal ?
Faz algum sentido manter no activo trabalhadores desajustados tecnologicamente e no desemprego os filhos deles que têm melhor escolaridade e preparação ?
Não seria preferível dar o subsídio de desemprego ao pai e pagar o salário ao filho?
Com maior produtividade, haveria mais e melhor economia e mais recursos para proteger aqueles que precisam.
Por que razão no casamento é possível o divórcio e no emprego não?

terça-feira, abril 12, 2005

UM PEQUENO PASSO

No seu recente congresso, o PSD não soube, ou não quis, mudar de vida.
Os congressistas dividiram-se.
De um lado ficou a vontade de darem continuidade, com outras pessoas, à demagogia e ao populismo que caracterizou a política de Santana Lopes, pensando que esse sistema de fazer política é o que dá em Portugal resultados a mais curto prazo.
Do outro, a mudança para uma prática política com mais seriedade, que para muitos poderia significar uma longa travessia no deserto e a perda de eventuais prerrogativas.
No meio, uma terceira via, teórica e académica, mas sem liderança.
Neste cenário, sem dispor de um exército coeso, Luís Marques Mendes vai ter uma missão muito dura e muito difícil.
Mas é motivadora a sua disponibilidade para o sacrifício e para uma luta ingrata.
Neste congresso o PSD não mudou de vida. Mas deu um passo nesse sentido.
E todos os caminhos começam por um pequeno passo.

O PS ANDA POR AÍ

Desde que assumiu funções nada de relevante foi feito pelo novo Governo, não obstante dispor de maioria absoluta, de um estado de graça pouco comum, do apoio inconfessado do Presidente da República, da expectativa ansiosa da maioria dos portugueses e do facto de conhecer perfeitamente os principais problemas do País.
Até agora apenas se registaram algumas decisões de pouca importância, para além da criação de muitas comissões para estudarem o que está suficientemente estudado.
Dizem que o PS não quer criar controvérsia antes da eleições autárquicas.
Provavelmente pretenderá fazer o mesmo antes das presidenciais.
É caso para perguntar onde está o PS ?

segunda-feira, março 28, 2005

CINQUENTA POR CENTO

A afirmação popular e brejeira de que metade dos portugueses anda a tentar enganar a outra metade não é inteiramente exacta. Na verdade há portugueses que tentam enganar todos os outros.
Por exemplo:
- os que utilizam facturas falsas para receberem IVA pago por todos.
- os que falseiam receitas médicas para receberem contribuições que todos pagam.
- os que usufruem rendimentos máximos e declaram rendimentos mínimos.
- os que criam obstáculos à resolução de problemas como fonte de angariação de luvas.
- os que utilizam informação privilegiada para obterem ganhos ilícitos.
- os que utilizam poderes democráticos para obterem favores não democráticos.
- etc.,etc..


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segunda-feira, março 07, 2005

VIDAS PRIVADAS


Um líder é aquele que vai à frente, aquele que dirige, que tem a responsabilidade de fazer as melhores opções e de encontrar os melhores caminhos. Ele deverá ser o mais inteligente, o mais competente, o mais culto. Mas, acima de tudo, ele deve ser o garante, sem a mais pequena sombra de dúvida, dos valores fundamentais, morais e éticos, da sociedade cujo futuro se propõe ajudar a construir.
A liderança só existe numa relação de confiança.
Por esse motivo, o caracter do líder é uma das vertentes mais importantes da sua personalidade.
Os grandes homens só passam a ser reconhecidos como tal depois de o tempo ter comprovado e amadurecido a prova de que a sua conduta é merecedora da confiança do seu Povo.
Neste contexto penso que, quando estão em causa líderes políticos, é um erro dizer-se que as opções pessoais tomadas no âmbito da vida privada não têm de ser do conhecimento público. Penso isto porque o caracter das pessoas começa por se definir na vida diária e na forma como agem e interagem perante a vivência quotidiana.
Tal como a lista dos seus bens deve ser pública, ao contrário do que acontece com as outras pessoas, também as suas opções morais, éticas e até religiosas devem ser conhecidas.
Assim como um pequeno gesto pode identificar um grande homem, o contrário também é verdadeiro.
Veio isto e propósito da seguinte notícia que hoje li:

“...A Boeing despediu o seu presidente executivo, Harry Stonecipher, por alegada relação amorosa com uma funcionária da empresa, que violou o código de conduta da segunda maior fabricante de aviões do mundo. Stonecipher, com 68 anos, saiu da reforma em Dezembro de 2003 para liderar a Boeing, depois de um escândalo em torno de uma aquisição da Air Force dos EUA e vai ser agora substituído em termos interinos pelo director financeiro, James Bell, disse a empresa em comunicado. Stonecipher vai também deixar o conselho de administração da empresa. O presidente executivo, Lewis Platt ordenou uma investigação depois de ter recebido um aviso anónimo da alegada relação há dez dias. Esta determinou que embora o caso amoroso fosse consensual, e não implicava assédio sexual, reduzia a capacidade de Stonecipher para liderar.”

segunda-feira, fevereiro 28, 2005

SE... (de Rudyard Kipling)

Se podes conservar o bom senso e a calma
Num mundo a delirar, para quem o louco és tu.
Se podes crer em ti com toda a força da alma
Quando ninguém te crê. Se vais faminto e nu
Trilhando sem revolta um rumo solitário.
Se à torpe intolerância, se à negra incompreensão,
Tu podes responder subindo o teu calvário
Com lágrimas de amor e bençãos de perdão.
Se podes dizer bem de quem te calunia,
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor
Mas sem a afectação de um santo que oficia,
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor.
Se podes esperar sem fatigar a esperança,
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho,
Fazer do pensamento um arco de aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho.
Se podes encarar com indiferença igual
O triunfo e a derrota, eternos impostores!
Se podes ver o bem oculto em todo o mal
E resignar sorrindo ao amor dos teus amores.
Se podes resistir à raiva e à vergonha
De ver envenenar as frases que disseste
E que um velhaco emprega eivadas de peçonha
Com falsas intenções que tu!... jamais lhe deste!
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizeres palavra e sem um termo agreste
Voltares ao princípio para construir de novo.

Se puderes obrigar o coração e os músculos
A renovar um esforço há muito vacilante,
Quando no teu corpo já afogado em crepúsculos
Só exista a vontade a comandar – Avante!
Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre,
Se vivendo entre os reis conservas a humildade
Se inimigo ou amigo, poderoso ou pobre,
São iguais para ti à luz da eternidade.
Se quem conta contigo encontra mais que a conta,
Se podes empregar os sessenta segundos
De cada minuto que passa em obra de tal monta
Que o minuto se espraia em séculos fecundos.
Então, ao ser sublime o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os templos, os espaços,
Mas ainda para além um novo sol rompeu
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.
Pairando numa esfera acima deste plano
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te meu filho... Então serás um HOMEM!

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

DIRECTAS JÁ

José Pacheco Pereira, que no PSD é uma referência de inteligência, coragem e frontalidade, escreveu no jornal O Publico e publicou no seu blog “abrupto.blogspot.com” o seguinte:
“......Se se pretende renovar o PSD, depois de 20 de Fevereiro, dever-se-ia lutar não apenas por um congresso extraordinário mas por um processo que implicasse uma demissão colectiva de todas as estruturas distritais e eleições simultâneas para essas estruturas pelo método das directas em conjunção com a escolha de delegados para o Congresso. Não é impossível de fazer com os actuais estatutos, e daria um abanão a todo o partido, fazendo participar o maior número de militantes numa escolha que irá ser decisiva para a sobrevivência do PSD como grande partido nacional.”
.............
"Boa !!!", como diriam os meus netos...

sexta-feira, fevereiro 18, 2005

MAIS LONGE...

A redução do peso do Estado na economia e na vida do País, condição essencial para um aumento de eficiência e de produtividade, está cada vez mais longe.
A esquerda vai ter uma larga maioria na Assembleia e não vai permitir a revisão da Constituição, no sentido de a aproximar do que são hoje os modelos europeus.
Ao orçamento vai ser exigido mais e mais. Todos vão querer a sua fatia, alargada, se possível.
Os que sustentam o sistema com os seus impostos têm dias negros pela frente.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

JÁ DEU PARA ENTENDER...

A população portuguesa pode ser dividida em dois grandes grupos: os que pagam impostos e os que vivem à custa deles.
A sorte das eleições vai decidir-se no confronto entre ambos, sendo certo que existem 4,5 milhões de portugueses que se sentam à mesa do orçamento, pelas mais variadas razões (funcionários públicos e respectivos agregados familiares, pensionistas, reformados, desempregados, fornecedores do Estado, empreiteiros, construtores, comerciantes, industriais, etc, etc.).
..........
Nesta fase da campanha eleitoral, permanece ainda alguma confusão entre os propósitos dos vários partidos no que respeita à maioria das questões que preocupam o País. Mas já deu para entender que o PS continua interessado em intervir em tudo e mais alguma coisa.
E um Estado interventor é um Estado despesista........
Todos aqueles que pagam impostos e seguem a aplicação dada ao seu dinheiro sabem que o Estado não é uma organização eficiente. Pelo contrário. Gasta muito e investe mal. Por esse motivo, é aconselhável que reduza a sua dimensão e as suas intervenções.
A maior parte dos problemas actuais, da Educação à Saúde, do Trabalho à Segurança Social (e outros) serão melhor resolvidos pelo sector privado.
Reduzir a dimensão do Estado é a única via para pagar menos impostos, libertando os orçamentos familiares para as opções que cada um queira fazer com o seu dinheiro.

quinta-feira, janeiro 27, 2005

OUTRAS CULTURAS...

“........Il y a encore pleins d'exemples comme ça qui montrent qu'il faut éviter d'interprétater trop rapidement les choses avec sa propre culture, sans chercher à comprendre. L'exemple qui frappe le plus est le dollar américain. Par manque d'histoire, les Américains utilisent le dollar comme une notion de mesure. Tout se mesure en dollar. Par exemple si vous dites aux Américains que ce tableau est de Picasso. Pour un Français ça a de la valeur. Mais pour un Américain, ça ne veut rien dire. En revanche si vous dites que c'est un tableau de 2 millions de dollar, alors là l'américain comprend sa valeur. En France, on voit ça de mauvais oeil et on pense que les américains sont des gens vénaux, ce qui est faux parce qu'il y a autant de français vénaux que d'américains...”.
(comentário de um jovem estudante chinês num blogue de um repórter francês sobre a ausência de democracia na China)

terça-feira, janeiro 18, 2005

QUALQUER DIA ZANGO-ME

O senhor Presidente da República lançou recentemente um desafio aos políticos dizendo que é absolutamente necessário aplicar um programa corajoso de medidas de contenção orçamental e equilíbrio das nossas contas públicas.
Poucos dias depois, o mesmo Senhor Presidente da República embarca para a China com uma gigantesca comitiva de uma centena de empresários, numa iniciativa alegadamente destinada a internacionalizar a economia portuguesa !!!!
1º. Nos últimos 20 anos, a maior parte (se não a totalidade) dos empresários embarcados já viajou para a China inúmeras vezes, integrados noutras comitivas governamentais, sem quaisquer resultados relevantes.
2º. É óbvio que as barreiras são mais do que muitas: a distância, a língua, a cultura.
3º. Em qualquer caso, todos eles têm recursos mais do que suficientes para viajarem à sua custa se ainda desejam conhecer melhor a realidade daquele País.
4º. Não é com viagens turísticas e em grandes grupos que se internacionaliza seja o que for.
5º. Não me lembro de iniciativa tão grandiosa de qualquer outro país europeu.
Nestas circunstâncias, lastimo que o Senhor Presidente da República tenha decidido (e os senhores grandes empresários tenham aceitado sem pudor) viajar à minha custa ...(isto é, dos impostos que pago).
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Face à ligeireza com que gastam o meu dinheiro, qualquer dia zango-me...

sexta-feira, janeiro 14, 2005

ANTIGAMENTE

Antigamente, e em tempos não muito longínquos, os psicólogos tratavam as pessoas desequilibradas numa sociedade equilibrada. Hoje em dia, sucede o contrário.
Vem isto a propósito de um caso contado por um psicólogo num programa de televisão. Um casal seu amigo lamentou-se de que a filha regressava da escolinha, especialmente aos fins de semana, com o rosto triste e eles não encontravam para isso qualquer explicação. Pediram o seu apoio.
Depois de estudar o caso, o psicólogo chegou à conclusão de que na escola havia muitas crianças com os pais separados, que já se haviam adaptado perfeitamente à situação e tiravam dela todo o proveito.
Entre si, comentavam se naquele fim de semana iam para casa do pai ou da mãe e o que tencionavam conseguir do progenitor(a) e, até, do novo namorado(a) de ambos, num efeito multiplicador de orçamentos, impossíveis de obter num casal normal.
A criança em causa sentia-se deslocada no meio e desfavorecida pelas circunstâncias.
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No fim, perguntava o psicólogo aos telespectadores: como vou explicar aos pais que o problema deles é serem um casal normal?


quinta-feira, janeiro 13, 2005

DEZOITO MESES

Pitigrili, que foi um autor irónico e mordaz com quem contactei na minha juventude, dizia que os políticos nos primeiros seis meses de poder governam-se a si, nos seis meses seguintes tratam da família e nos outros seis dos amigos.
Só depois começam a governar o País.
Com este ritmo, é extremamente recomendável que os mandatos sejam cumpridos até ao fim... para que se possa tirar deles qualquer proveito.
Infelizmente, não é o que acontece em Portugal.
Mesmo sem grande justificação, encurtam-se os períodos de legislatura. É preciso aproveitar !!!
Daí que pouco sobra para o País....

domingo, janeiro 02, 2005

A ÁRVORE DE NATAL

A minha neta Joana vive com os pais em Évora e vem de vez em quando passar uns dias com os avós a Carcavelos, o que ela adora e nós também.
A Joana tem 4 anos, acabados de fazer, e é muito especial. Tem uma grande vivacidade, uns olhos verdes lindos, uma grande inteligência e uma forte ligação à sua avó Lena. A relação entre as duas é muito forte. Adoram-se mutuamente e passam o tempo todo a declará-lo, com grandes e prolongados abraços e muitos beijos.
A Joana é também muito comunicativa e exprime-se com facilidade e clareza.
Quando vem a Carcavelos a sua alegria é grande, pois está sempre com saudades da sua avó, que os telefonemas não conseguem apagar.
Neste Natal, como sempre, veio com os pais e o seu irmão Tiago, passar uns dias connosco.
Para além dos festejos habituais, com o Natal a bater à porta e a distribuir os desejados brinquedos, havia um programa diferente. Ir à noite ver as iluminações na baixa e, principalmente, o que era suposto ser o ponto alto do programa, a gigantesca árvore de Natal construída em Belém e que se diz ser a maior da Europa.
Assim fizemos na noite de 26. Em dois carros, pais avós e netos foram a Belém, onde estacionámos para melhor apreciarmos a árvore, que é de facto impressionante pelas dimensões e pela beleza da iluminação.
A Joana olhou para a árvore e disse: é bonita, mas não é a minha favorita.
Então qual é, perguntámos-lhe.
Eu digo quando formos para casa, respondeu.
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À entrada de Carcavelos, na última rotunda, há uma modesta e pequena árvore de Natal, bonita mas muito simples e pouco iluminada.
A Joana disse então: esta é a minha favorita.
Porquê? Perguntámos.
Porque quando vimos de Évora e chegamos aqui eu sei que estamos perto da casa da minha avó.