terça-feira, setembro 30, 2003

AINDA O PROFESSOR MARCELO

De futuro, será interessante confrontar as opiniões do Professor Marcelo Rebelo de Sousa, na TVI, com as de Pacheco Pereira, na SIC.
Estilos e motivações diferentes.
No último domingo ambos comentaram a marcha branca contra a Pedofilia.
O Professor considerou o acontecimento como muito positivo.
Pacheco Pereira preferiu sublinhar que a manifestação poderia ter efeitos perversos.
Há muito tempo que tem vindo a ser recomendado pelas mais altas entidades deste País, desde o Presidente da República ao Primeiro-Ministro, que se deixe funcionar o sistema judicial, evitando-se discutir o processo na praça pública.
Será que uma marcha, como a que foi realizada, em que o altruísmo e as boas intenções da maioria das pessoas se misturou com interesses manifestamente contraditórios de outras, contribuiu para deixar funcionar a Justiça?

segunda-feira, setembro 29, 2003

O PROFESSOR MARCELO

Com o seu ar simpático, sorriso amigável e muita facilidade de expressão, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa tem, na sua audiência de domingo à noite, famílias inteiras, compostas de duas ou três gerações, que se reúnem à volta da caixinha mágica para o ouvir comentar, a alta velocidade, os principais acontecimentos da semana.
Fala com a autoridade e competência de um prestigiado professor catedrático.
Procura fundamentar e explicar os seus pontos de vista.
Nunca é agressivo.
Aborda as questões mais melindrosas sem individualizar responsabilidades e quando fala de políticos consegue criticar pessoas dando a impressão que as elogia (as famosas bicadas do Professor Marcelo).
A fórmula é de sucesso, como o atestam os trinta anos de actividade como comentador e a admiração que suscita entre os telespectadores.
Mas... por vezes leva longe demais essa preocupação de não magoar ninguém.
Foi o caso, no último domingo, dos seus comentários sobre a polémica criada por Maria Elisa ao deixar o Parlamento por doença no dia em que ingressava na RTP, supostamente de boa saúde, para logo de seguida ser nomeada (ou indigitada) para uma função pública na embaixada de Londres.
No entender do Professor Marcelo a Maria Elisa estava a ser vítima de invejosos....


segunda-feira, setembro 22, 2003

O BASTONÁRIO E A JUSTIÇA

Numa altura em que a Justiça e os processos que utiliza são questionados em função do efeito que têm no Processo da Pedofilía, o que é a pior maneira de reflectir sobre o assunto, o Dr. Miguel Júdice, ilustre Bastonário da Ordem dos Advogados, depois de pedir contenção nas intervenções públicas, vem agora defender a tese de que as escutas telefónicas só deveriam ser permitidas se estivessem reunidas provas suficientes para a aplicação de medidas de coacção. Isto em nome da protecção dos direitos individuais.
A polémica instalou-se com artigos a favor e contra.
Não sou jurista e tenho pela figura pública que é o Dr. Miguel Júdice o maior respeito e consideração. Mas, neste caso, estou em total desacordo com a sua tese. Compreendo-a, mas penso que os direitos de cada um de nós não podem ser usados para dificultar investigações sobre crimes graves, que se internacionalizaram nos últimos anos, funcionando em rede com os meios mais sofisticados.
Pessoalmente, abdico dos meus se isso puder contribuir para combater crimes que podem afectar direitos humanos, como é o caso da Pedofília e da Droga.
Nesta questão, como em muitas outras, as posições radicais podem ter efeitos perversos.

quinta-feira, setembro 11, 2003

UMA EUROPA CRISTÃ ?

A propósito do projecto de Constituição para a futura União Europeia, nasceu uma interessante polémica sobre se tal documento deve ou não conter uma referência ao facto de a religião cristã ter influenciado ao longo dos séculos a cultura dos países que compõem a actual Europa.
A discussão tem-se centrado sobre se devemos esquecer esse pilar da nossa civilização ou se, pelo contrário, devemos fazer-lhe referência na nova Constituição, procurando, assim, uma garantia de estabilidade numa evolução que, necessariamente, vai dar origem a novos conceitos e filosofias de vida.
À primeira vista parece tratar-se de uma questão de fundo religioso.
Mas, em meu entender, a polémica é essencialmente política.
A referência à origem e à cultura cristã dos países europeus é susceptível de dificultar a adesão de países de origem muçulmana (ou outra), como é o caso da Turquia. A não referência vai facilitar tal adesão.
Trata-se, portanto, de definir, à partida, a amplitude do alargamento da Europa e o perfil desejável dos novos parceiros.
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A vontade de preservação da nossa cultura, a par de critérios de eficiência e de alguma dose de egoísmo aconselham a que se deixe claro o envolvimento cristão do novo espaço político.
Mas com essa clarificação a Europa terá de ter coragem (e possuir meios) para assumir sem equívocos o ónus de uma contribuição decisiva à criação de grandes blocos cimentados em fundamentos religiosos.
A consequência será inevitavelmente o alargamento de bases sociais mais permeáveis à tão receada guerra das religiões, que parece, aliás, já ter tido o seu início com a luta sangrenta pelo poder político desencadeada por facções islâmicas mais radicais em alguns países do Médio e do Extremo Oriente.
Nestas circunstâncias, o problema da nova Constituição Europeia é fácil de entender, mas será certamente difícil de resolver.
E mais uma vez as implicações a curto prazo e a longo prazo parecem antagónicas.
Num futuro próximo haverá óbvias vantagens num certo isolamento europeu, porque será mais fácil consensualizar valores e políticas. A longo prazo essas vantagens podem ter custos enormes, sem os quais não haverá forma de salvaguardar os valores da civilização Ocidental.


quinta-feira, setembro 04, 2003

AS FERAS E A TELEVISÃO

A melhor forma de manter tranquilo um animal selvagem é alimentá-lo bem, pois de uma forma geral a sua agressividade aumenta com a fome.
Estômago cheio, fera amansada.
Já se sacrificaram animais e, por vezes, seres humanos, para acalmar divindades e, em todos os tempos, o poder político procurou saciar o apetite das multidões pelos espectáculos mais ou menos cruéis, desde antiga Roma com o lançamento dos cristãos às feras.
Actualmente ainda restam alguns resquícios dessas práticas. Mas, no essencial, estamos confinados aos espectáculos em formato digital, com especial destaque para a televisão que procura manter o seu poder e influência sobre as pessoas dando de comer às feras....
E quanto mais chocantes e degradantes forem as cenas, quanto maiores forem as tragédias, maior é o tempo de antena e o espaço em horário nobre, confundindo-se diariamente estas aberrações com noticiários.
Como em tudo na vida está também aqui subjacente uma competição.
Em minha opinião, ganha a TVI, logo seguida de perto pela SIC (ou vice-versa).
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Tenho pena, muita pena, que isto aconteça em Portugal.

VIOLÊNCIA SOBRE CRIANÇAS

Os pais amam os filhos. Os avós adoram os netos.
Quem não gosta de crianças ?
As crianças podem ser muito traquinas, birrentas ou amorosas, mas são sempre fonte da vida, que nelas renasce em cada geração. Exigem por isso todo o carinho, sendo condenável qualquer forma de violência exercida sobre elas. Ainda está ainda na nossa memória a palmatória dos cinco olhinhos ou a vara comprida que alguns professores utilizavam e que hoje causam repulsa generalizada.
Sabe-se que muita da violência que existe no mundo tem a sua origem em traumas de infância, designadamente de abusos físicos sofridos no ambiente familiar, na escola, no convívio com outras crianças e depois no contacto com adultos.
As crianças aprendem com a vida, seguem o exemplo dos mais velhos e têm tendência para repetir as palavras, os gestos e os actos que presenciam, formando a sua personalidade com a vivência diária.
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Para além da tristeza e da repulsa que todos sentimos quando se trata de actos bárbaros como o da pedofilia, há que assumir uma vontade colectiva de censurar e condenar toda e qualquer forma de agressividade contra crianças, mesmo quando parece inofensiva ou motivada por propósitos educativos.


segunda-feira, setembro 01, 2003

MUNICIPALISMO E DIVISIONISMO

Os portugueses cultivam todo o tipo de originalidades para se dividirem; históricas, culturais, religiosas, etc.
Preferem ser orgulhosamente poucos (e fracos) a organizarem-se em colectivos fortes.
A primeira razão é a mesquinhez. Todos querem ser presidentes de qualquer coisa e só haverá presidentes se essa coisa existir, seja um clube de futebol, um grupo folclórico ou uma agremiação qualquer.
A segunda é a falta de civismo, sem o qual não é possível aceitar regras, excepto as próprias.
Na era da globalização os portugueses globalizam-se ao nível da aldeia.

CONVEM RECORDAR

No século XX a primeira grande tragédia da Humanidade foi causada pelo nazismo, ambicioso projecto político de dominação totalitária, fundado e liderado por ditadores brutais e sanguinários.
Todos temos ainda presentes os milhões de mortos e as horríveis torturas que alguns seres humanos sofreram.
Convém recordar que foram duas das mais antigas democracias do Ocidente que generosamente sacrificaram os seus povos e muitos dos seus filhos na luta contra essas forças aparentemente invencíveis.
Refiro-me obviamente à Inglaterra e aos Estados Unidos.
Nasceu depois o comunismo que, sob uma falsa doutrina de solidariedade humana, mais não fez do que impor-se pelo terror, causando milhões de mortos e empobrecendo aqueles que aderiram ao sistema ou com ele se conformaram.
Convém lembrar que foram de novo a Inglaterra e os Estados Unidos a conduzir a luta contra essa ditadura, ela também aparentemente irreversível.
No início do século XXI, cresce, à escala planetária, um terceiro movimento de dominação sobre todos os homens, inspirado num fundamentalismo religioso que utiliza abertamente o terrorismo organizado para eliminar aqueles que se lhe opõem e aterrorizar todos os outros.
Mais uma vez são a Inglaterra e os Estados Unidos, duas das mais antigas democracias do Ocidente, a mobilizar esforços para o combate, sob a incompreensão de muitos.
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Acusar estes dois países é ser ingrato.
A eles se deve o vivermos hoje em liberdade e democracia, que é, apesar de tudo, a melhor herança que poderemos deixar às futuras gerações.