quinta-feira, setembro 11, 2003

UMA EUROPA CRISTÃ ?

A propósito do projecto de Constituição para a futura União Europeia, nasceu uma interessante polémica sobre se tal documento deve ou não conter uma referência ao facto de a religião cristã ter influenciado ao longo dos séculos a cultura dos países que compõem a actual Europa.
A discussão tem-se centrado sobre se devemos esquecer esse pilar da nossa civilização ou se, pelo contrário, devemos fazer-lhe referência na nova Constituição, procurando, assim, uma garantia de estabilidade numa evolução que, necessariamente, vai dar origem a novos conceitos e filosofias de vida.
À primeira vista parece tratar-se de uma questão de fundo religioso.
Mas, em meu entender, a polémica é essencialmente política.
A referência à origem e à cultura cristã dos países europeus é susceptível de dificultar a adesão de países de origem muçulmana (ou outra), como é o caso da Turquia. A não referência vai facilitar tal adesão.
Trata-se, portanto, de definir, à partida, a amplitude do alargamento da Europa e o perfil desejável dos novos parceiros.
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A vontade de preservação da nossa cultura, a par de critérios de eficiência e de alguma dose de egoísmo aconselham a que se deixe claro o envolvimento cristão do novo espaço político.
Mas com essa clarificação a Europa terá de ter coragem (e possuir meios) para assumir sem equívocos o ónus de uma contribuição decisiva à criação de grandes blocos cimentados em fundamentos religiosos.
A consequência será inevitavelmente o alargamento de bases sociais mais permeáveis à tão receada guerra das religiões, que parece, aliás, já ter tido o seu início com a luta sangrenta pelo poder político desencadeada por facções islâmicas mais radicais em alguns países do Médio e do Extremo Oriente.
Nestas circunstâncias, o problema da nova Constituição Europeia é fácil de entender, mas será certamente difícil de resolver.
E mais uma vez as implicações a curto prazo e a longo prazo parecem antagónicas.
Num futuro próximo haverá óbvias vantagens num certo isolamento europeu, porque será mais fácil consensualizar valores e políticas. A longo prazo essas vantagens podem ter custos enormes, sem os quais não haverá forma de salvaguardar os valores da civilização Ocidental.


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