segunda-feira, agosto 22, 2005

ALEKHINE

Alexander Alekhine, nascido em Moscovo em 1892, que foi campeão do Mundo de Xadrez, viveu durante a última grande guerra, em França, onde colaborou com a resistência até ser preso.
Conta-se que o forte militar onde foi detido era comandado por um oficial alemão que gostava muito do jogo de xadrez, a que dedicava as suas horas vagas e todas as suas capacidades.
O xadrez é um jogo que exige muito estudo, muitas horas de prática, disciplina mental, elevado grau de concentração e faz uso de disciplinas como a táctica e estratégia.
Cada jogador tem de procurar antecipar os possíveis lances do adversário e preparar para eles a melhor resposta. Nessa medida é também uma luta psicológica em que duas mentes se enfrentam, tentando advinhar o que vai na outra.
Um dia, o oficial alemão consultando a lista de prisioneiros, viu o nome de Alekhine, o melhor jogador mundial na época e amplamente admirado por todos os jogadores de xadrez.
A possibilidade de o enfrentar era única e a emoção que isso lhe causava era enorme.
Mandou chamá-lo e propôs-lhe que jogassem um jogo. Receando que Alekhine viesse a deixá-lo ganhar como forma de o aliciar, o que retiraria grande parte do interesse dessa oportunidade excepcional, fez a proposta nos seguintes termos: jogariam um único jogo; se Alekhine ganhasse dar-lhe-ia um salvo-conduto com o qual poderia atravessar a fronteira; se perdesse continuaria preso e ele desinteressar-se-ia da sua sorte.
Alekhine aceitou a proposta e o jogo começou. Após alguns lances, Alekhine percebeu que o seu adversário era muito forte, mas incapaz de lhe ganhar. Hesitou.. Tentou advinhar o que ia na mente do seu adversário: se o vencesse, provavelmente ficaria irritado e não cumpriria o prometido; mas se o deixasse ganhar corria o risco de o ofender e de a reacção ser pior.
Os olhares cruzaram-se. Pelo brilho dos olhos, Alekhine pressentiu que o seu oponente lhe estava a ler os pensamentos.
Resolveu arriscar e decidiu que o campeão do Mundo teria de ganhar mesmo contra um oficial alemão, seu carcereiro e indiscutivelmente um grande jogador de xadrez.
Ganhou o jogo, apertaram as mãos e retirou-se sem trocarem uma palavra.
Horas depois recebeu o prometido salvo-conduto, com o qual atravessou a fronteira, entrou em Espanha e chegou a Portugal, onde conduziu magistrais partidas de xadrez e deixou uma memória que ainda perdura.
Faleceu em 1946 num quarto de hotel no Estoril, vítima de ataque cardíaco.
Os seus restos mortais foram transferidos em 1956 para o cemitério de Montparnasse, em Paris.
Portugal perdeu a presença de uma mente brilhante.
Na internet encontra-se um site em sua memória:
http://www.starfireproject.com/chess/alekhine.html

quarta-feira, agosto 17, 2005

O PRIMEIRO CABELO BRANCO

Num velho livro de contos e outras histórias, intitulado “Fumo do meu cigarro” e editado no início do século xx, da autoria de um jornalista do Diário de Notícias, que penso se chamava Augusto de Castro, relembro este conto muito interessante:
Alguém viajava de automóvel a alta velocidade, inebriado pelo risco e pela sensação de adrenalina, quando, a certa altura, teve um furo num dos pneus, que o obrigou a uma paragem. Saiu do carro e olhou à sua volta. Estava numa montanha de onde se desfrutava o vale em baixo, um rio, algumas casas rústicas e as encostas cobertas de árvores que davam um colorido de várias cores e tonalidades à paisagem. Era um cenário deslumbrante em que não havia reparado pela excessiva velocidade a que viajava. Sentou-se e ficou durante largos instantes a receber a brisa das árvores e a deleitar-se com a natureza que o cercava. Depois substituiu o pneu e seguiu viagem, mas agora rodando de vagar e prestando atenção à paisagem.
Dizia o autor do conto que aquele furo no pneu que lhe permitira descobrir algo a que até ali não havia prestado atenção era como o primeiro cabelo branco que acontece nas nossas vidas.
Quando um dia olhamos para o espelho e descobrimos esse fio de prata, também paramos, reflectimos e passamos a olhar o mundo de forma diferente.

quarta-feira, agosto 10, 2005

A CONTABILIDADE NECESSÁRIA

O País está a arder.
A dor, a angustia, a tristeza, as tragédias, os dramas enchem ecrãs de televisão e páginas de jornais.
Analisam-se os meios existentes. Se são suficientes ou não. Um ministro explica que os meios são suficientes, mas não para os picos...
Ardem casas... Morrem pessoas... A abnegação e a luta dos bombeiros é heróica.
Durante anos seguidos Portugal desertifica-se...
A quem beneficia o crime?
...............
Não seria possível publicar algumas contas ?
Quanto se gastou com os incêndios e em quê ?
Quem recebeu esse dinheiro e porquê ?